Preciso iniciar esse texto me desculpando. Sim, eu sei, eu não devo nada a ninguém mas quando me comprometi a escrever isso aqui, era pra seguir uma periodicidade. Porém, entre vida social, trabalho, um tornozelo quebrado e maluquices da minha cabeça, eu voltei. E voltei pra falar de amor.
Pode parecer coincidência sair um dia depois do Dia dos Namorados, mas é bem proposital. Confesso também que esse fim de semana me deu inspiração pra trazer o dengo como pauta principal disso aqui. Talvez eu esteja monotemática, acontece.
Uma vez conversando com a Bruna, eu falei que eu queria amar e ser amada como o samba ama e é amado. Mas além disso, que crescer com ele tão perto e presente na minha vida me deu uma outra dimensão do que é entregar afeto positivo nas relações, independente de como ela seja.
Meu pai é um manteiga derretida. Aquela história de “homem não chora” nunca fez muito sentido pra mim porque eu sempre vi meu pai chorar por tudo. De raiva, de amor, de tristeza, de felicidade, e ele nunca escondeu suas emoções dentro de casa, e sempre incentivou que elas fossem demostradas da forma mais genuína possível. Mas além de sensível, meu pai é sambista, daqueles que escreve músicas de amor para uma negrona que conheceu no samba passado, com voz doce e aveludada.
Essa música ai de cima é do meu pai. Na capa, ele é o que tá deitado no chão. Sim, era impossível eu sair feia mas, acima de tudo, sair sem acreditar que o amor existe e sem amar como o samba ama, como meu pai ama. Existem muitas teorias sobre essa música, mas uma delas é que ela foi escrita pra minha mãe. Uma fofoca de família: meu pai já era casado, e ai eu nasci. Uma história legal é que eu fui planejada também, mas não me faça muitas perguntas porque eu não vou saber te responder.
O ponto aqui é que crescer com o samba na minha vida me fez não ter medo de amar. Mesmo que a vida tenha me dado algumas surras, eu sempre acreditei que ele era pra mim e, principalmente, sempre amei como Jorge Ben se declarava, como Arlindo Cruz gritava aos sete ventos.
O samba me trouxe a humanização dos meus sentimentos e, principalmente, retirou a ideia de que eles precisavam ser reprimidos. Se ali, na minha frente, eu via homens e mulheres com a mão no peito, olhando no fundo dos olhos do céu, gritando que sim, eu só sei dizer que te amo, por que não eu? Por que não dizer que sim, faço o que for preciso pra ficar contigo e que sim, você é meu vício meu sonho maior? Zeca Pagodinho sempre soube falar de amor.
Mas além de intenso, aqui existe responsabilidade e a liberdade. O amor pra mim nunca foi sobre prisão, sobre dogmas e acordos feitos por outra pessoa na fé de que caberia em outra relação. Em “Abuso de Poder” Jorge Aragão te conta, ele sempre te disse que tinha um amor, foi bom, foi legal, mas ele precisa voltar a quem acordou lealdade. Eu juro lealdade, te juro liberdade, te juro amor, como me foi ensinado.
Nesse dia 13, eu desejo pra você que tá lendo o amor que o samba faz existir. Desses intensos e exagerados, com comunicação e melodia pra dançar agarradinho. Que Arlindo Cruz saiba te abraçar e que Zeca Pagodinho embale seus domingos, ou pelo um deles, com direito a beijinho na ponta do nariz.
Bom, por hoje é só. Desculpa se ficou confuso, entrei no meu inferno astral. Não é o ideal, mas infelizmente acontece.
Para escutar, o álbum do antigo grupo de samba do meu pai:
Boa semana, escute samba!
E seja amade!